Morávamos em Barbacena, cidade que já foi reconhecida nacionalmente pelo tratamento de “loucos” que se alojavam nos manicômios lá instalados. Famílias de todo o Brasil levavam parentes para tratamento em um dos hospitais da localidade. Lembro-me do homem do pastel. Manso, vivia nas redondezas da rodoviária. Pedia dinheiro, comida, bebida e, sobretudo, pastéis. Eu e meu irmão éramos duas crianças, 5 e 6 anos, sentadas no meio fio comendo pastel desavisadamente. O homem alto, magro, cabelos ralos, roupas largas se aproximou e pediu:
- Me dá um pedaço de pastel!
Ao ouvir aquela voz fina já sabíamos do que se tratava. Não havia como fugir, fomos pegos desprevenidos. Descobrimos, por nossa própria experiência que o louco do pastel não era uma lenda. Era tão real que se encontrava na nossa frente. E para piorar queria um pedaço de pastel. Olhos arregalados, expressão de susto, meu irmão respondeu:
- Toma.
Imediatamente entregou seu pastel inteiro, não apenas o pedaço que ele queria, e fez um primeiro movimento de quem estava prestes a iniciar uma corrida. Foi quando o homem o tranquilizou:
- Não tenha medo, só estou com fome.
O homem era um “louco”, como muitos que se vê pelas ruas das cidades. No entanto, também era um ser humano que estava com fome. Desde aquele dia não tive mais medo de loucos. Eles nunca fazem mal a ninguém. Hoje posso agradecer ao homem do pastel por ter ensinado a mim e a meu irmão que “loucos” são pessoas sofridas, abandonadas por familiares. Não são criminosos. São seres humanos excluídos do convívio social!
Este texto foi uma contribuição do Martelo para o BLOG Balada do Louco.
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